quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Carta enviada ao Sr. Diretor do Jornal da Tarde:

Salvador, 26 de agosto de 2009

Sr. diretor do Jornal da Tarde,

Inicio esta carta demonstrando minha indignação quanto aos últimos acontecimentos envolvendo os garotos, titulados pela mídia de “Capitães de areia”. É muito fácil apontar culpados e repassar as responsabilidades daqueles que deveriam ofertar a educação e o cumprimento da ordem contra violência e desigualdades, como vêm fazendo os Srs. Delegado da polícia, Dr. do juizado de menores e o Diretor do reformatório. V. S.ª deixam de tratar a questão do menor como um assunto de ordem econômica e social e transforma-o exclusivamente em um problema criminal. Além do mais, não só o próprio jornal, como os demais senhores, explicitam suas posturas hipócritas ao frisarem a sua diferença social quanto ao tratamento dado nas suas palavras aos sujeitos envolvidos, sobretudo àqueles que encaminharam suas cartas na defesa dos meninos, como a costureira e mãe de um deles, D.Maria Ricardina e o Pe.José Pedro, que ganharam respectivamente as alcunhas de mulherzinha do povo e padre do demônio. A responsabilidade social perante a vida desses garotos DEVERIA partir de todos os Srs, incluindo também às suas mães e pais, bem como as demais instituições e por que não a igreja? Sim, todos esses estabelecimentos (escolas; reformatórios; delegacias; Juizado de menores; igrejas; mídia televisa e impressa; governos), enfim, TODOS possuem o encargo de educar – primeiramente - de forma integral essas crianças e posteriormente, caso as mesmas infrijam às leis, que sejam REEDUCADAS objetivando RESSOCIALIZÁ-LAS à coletividade. Antes que caiam na clandestinidade devido à falta/evasão nas escolas, pobreza, desestruturação familiar, dentre inúmeras CAUSAS SOCIAIS que, em certos casos, as encaminham para essa marginalidade – ratificando a marginalização da quais são vítimas antes mesmo de nascerem – sugiro que consideremos a educação como uma constante reconstrução da experiência, tal qual defendeu John Dewey (1852-1952). Para isso, é essencial a implantação de políticas públicas eficazes na qualidade da educação dos menores e das suas comunidades- leiam-se projetos de controle da natalidade, educação sexual, higiênica, de artes e ofícios, bem como cursos profissionalizantes. Atividades estas que lhes ocupariam possível tempo ocioso e oportunizariam para todos, desde as crianças até os mais velhos, o ensinamento e desenvolvimento de habilidades, não só para aprendizagem, mas para sobrevivência. Essa proposta estende-se também aos reformatórios - que não fazem jus ao seu nome e deveriam adotar uma educação em mudança permanente em prol da reconstrução, tal qual defende Anísio Teixeira: “Além de integral, pública, laica e obrigatória, ela deveria ser também municipalizada, para atender aos interesses de cada comunidade.,.” para que os ditos de Pitágoras deixem de ser utopia e ecoem ratificando-se sempre esta máxima: “eduquem os meninos e não será preciso castigar os homens”.

Atenciosamente,

Ivana Silva Figueredo
Estudante de Pedagogia da UFBA/FACED

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